Depressão, ansiedade e estresse – sintomas da vida moderna?
Vamos conversar sobre cada um destes estados humanos, pois um leitor escreveu contando um pouco de sua história.
“Sou gerente de um banco, tenho metas arrojadas para cumprir, recebo pressão com horário de trabalho e com os procedimentos do banco; tais regras, às vezes, são pouco compatíveis com as metas. Tenho que ter calma para prestar o melhor atendimento ao cliente, mas me sinto ansioso, tenso e estressado. Quando estou com minha família fico irritado e não sinto vontade de fazer nada. Será que isto é normal? Estou até tomando um antidepressivo”. (Leitor A. C. O.)
Caro leitor, sou psicóloga, trabalho com gente em consultório e em organizações. Observo que inúmeras vezes as pessoas se sentem deprimidas, ansiosas ou estressadas. Muitas delas, como você, alegam a pressão do dia a dia como causadoras destes estados.
Ao observarmos a história da humanidade percebemos que em cada época surgem manifestações específicas, retrato da sociedade.
A depressão, a ansiedade e o estresse têm se mostrado como as que mais atingem as pessoas em nosso século.
Existe algum sentido para estes sintomas?
Ao formular esta pergunta, quero enfocar estes aspectos como pertencentes ao sujeito. Cada manifestação do indivíduo tem um significado. É como se através dela o psiquismo buscasse apresentar um caminho para a reestruturação de dilemas.
Poderia orientá-lo com uma série de dicas, como: pare de fazer tal coisa ou faça tal coisa. Não que todas estas dicas não sejam necessárias e ajudem muito. Porém, gostaria de trabalhar o tema por outro caminho.
Pensei em conversar sobre quais as diferenças entre estes três sintomas. Às vezes, fazemos confusões com nossas emoções. Aprender a reconhecer o que estamos sentindo e dar o nome certo a cada emoção, já ajuda muito.
A depressão se caracteriza pela perda da autoestima, da motivação, a sensação da baixa probabilidade de alcançar objetivos de vida, pela desorientação, tristeza e sentimento de vazio interior. A pessoa deprimida vive com pensamentos em torno do passado, fica com a sensação que os bons tempos passaram e que há pouca perspectiva de futuro.
A depressão também se associa ao envelhecimento. A vida segue em frente, ficamos velhos, experientes e sábios. Constatar que é preciso abandonar a inocência e a despreocupação da juventude pode trazer tristeza.
Durante o período de depressão, a pessoa pode ter a sensação de morte de alguns princípios ou hábitos. Por vezes, nos tornamos apegados a um jeito de ver a vida e com uma rotina muito organizada. Reconhecer que pouco se sabe sobre o significado da vida, pode ajudar a abrir espaços para experimentar o novo e o diferente.
Por vezes, perseguimos objetivos irreais, aprender sobre nossos limites tem sido outro causador de depressão. Aprender a reconhecer suas habilidades e suas impossibilidades coloca a pessoa em contato com sua essência e isto a humaniza.
A ansiedade é uma excitação no sistema orgânico, um conjunto de efeitos musculares, ligados a alguma situação ou experiência. A ansiedade se caracteriza por uma sensação de apreensão, de medo ou nervosismo. A ansiedade pode até ser boa, como uma gostosa sensação de frio na barriga diante de algo prazeroso como uma viagem, um novo emprego, o encontro com a pessoa amada. Por outro lado, pode ser uma reação do organismo diante de situações mais complexas, acarretando dificuldade de concentração, sensação de fadiga, problema sexual ou dificuldade para dormir. A ansiedade pode ainda acarretar transtornos mais excessivos, como síndrome do pânico, fobia social ou transtorno obsessivo-compulsivo.
O estresse caracteriza-se por uma dificuldade de relaxar, por uma excitação nervosa, por uma reação de impaciência, por uma agitação e por intolerância a determinado tipo de coisa. O estresse é um estado de tensão que cria desequilíbrio interno ao organismo.
O estresse pode apresentar quatro fases. A primeira é a fase do alarme, o organismo mostra que algo não está bem. A segunda é a fase da resistência, inicia quando o estresse passou a ser contínuo. A terceira é a fase da exaustão, neste período há queda da imunidade e começam a aparecer sintomas físicos. A quarta fase se caracteriza pelo estresse agudo, o organismo é incapaz de lidar com a situação, levando a pessoa a adoecer e se afastar da situação estressante.
Em pequenos níveis estes estados, tanto de depressão como de ansiedade ou de estresse, são normais à vida das pessoas e até úteis.
Agora que você aprendeu a diferenciá-los, caso você sinta algum deles por um período de tempo maior que a situação requeira, procure ajuda profissional (médica e psicológica). O mais eficaz é identificar o que está acontecendo. O psiquiatra atua na identificação do sintoma e do adequado medicamento, o psicoterapeuta ajuda clarificar os impasses vividos e cultivar habilidades para melhor se perceber.
Ana Paula Escorsin – Psicóloga.