Trabalho, criatividade e dinheiro. É possível interligá-los?
Existem muitas maneiras de trabalhar. Algumas são mais gratificantes e produtivas, outras mais árduas e estressantes. Fazer a escolha por uma profissão é um momento crítico na vida de qualquer pessoa, pois o mundo nos coloca diante de inúmeras oportunidades. Decidir por uma delas é dizer não para todas as outras opções. Por isso, é importante fazer a escolha certa. Mas, se por ventura, pegamos um caminho diferente, sempre é possível retonar.
Neste artigo respondo a pergunta de uma leitora que tem uma inquietação com seu trabalho atual. Vou analisar algumas ideias sobre o tema, interligando-o com aspectos psicológicos.
“Trabalho há anos num hospital, sou enfermeira, considero que tenho um bom salário, gosto do que faço, mas às vezes me sinto muito cansada e estressada. Ouço histórias de pessoas doentes o tempo todo, o que me deixa deprimida e sem vontade de fazer as coisas para mim. Penso em buscar alguma outra profissão mais criativa. Queria ouvir sua opinião de psicóloga sobre o assunto”. (Leitora: J.L.)
Vejamos em que a psicologia pode ajudar. Viver de forma saudável requer atenção a todos os aspectos de seu ser. O trabalho é um deles. As condições existentes em toda atividade profissional fazem parte das questões humanas e podem acarretar perturbações psicológicas.
O trabalho é uma extensão ou um reflexo da pessoa, ele nos ocupa por um longo período do dia. Costumo dizer que o trabalho é uma vocação. Ao olhar o significado da palavra vocação, temos que é uma “tendência ou inclinação natural que direciona alguém para uma profissão específica, é a capacidade, o interesse, o talento natural por alguma coisa” (Dicionário Língua Portuguesa, 1992, página 543).
Os modelos modernos de gestão de pessoas utilizam o termo competências, para definir o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para um profissional desempenhar uma determinada atividade. Competências representam, então, o nível de entrega da pessoa para a organização.
Juntando agora os dois termos vocação e competências. Para que um profissional seja competente em seu trabalho, ele precisa desempenhar atividades para as quais ele tenha talento. Isto não exclui muito estudo e muita dedicação. Pouco adianta escolher uma profissão só porque ela é rentável ou porque tem um amplo mercado ou porque é o negócio da família se você não tem talento para aquele tipo de atividade. A escolha profissional precisa ser analisada de forma mais ampla.
Precisamos olhar com mais detalhes as ideias que nutrimos sobre uma vida profissional bem sucedida. Às vezes alimentamos fantasias querendo mudar de emprego. Caso isto seja realmente necessário, é preciso reunir coragem para buscar outra colocação, estabelecer metas concretas e principalmente verificar se temos aptidões para a outra atividade.
Dinheiro e trabalho estão intimamente ligados. Quando o foco está no dinheiro e não no prazer para com o trabalho, certamente haverá problemas.
O dinheiro não é só um meio de troca, a ele se interliga uma complexidade de situações, são valores subjetivos, tem caras e formas diferentes, o que nos faz projetar sobre ele aspectos ou qualidades diferentes. Muito do que somos pode ser visto na relação que estabelecemos com o dinheiro.
As pessoas nascem com características próprias, o que as fazem diferentes uns das outras. As competências e os talentos de uma pessoa são únicos e particulares.
Quando o trabalho que o individuo realiza coincide com seus talentos, então ambos se tornam uma só coisa. Então a satisfação com a obra realizada (seja ela qual for) será profunda e duradora, independente de ideias de fracasso ou sucesso.
A psicoterapia, o coaching, a orientação vocacional e profissional são técnicas utilizadas pela psicologia que ajudam as pessoas a refletirem sobre suas vidas, analisarem suas competências e talentos, avaliarem alternativas para suas carreiras para tomarem decisões mais seguras.
"Através da psicoterapia a pessoa pode se tornar consciente de coisas que, em geral, até reconhece nos outros, mas não consegue ver em si mesma" (C.G.Jung, 1987).
Ana Paula Escorsin – Psicóloga.